Existem vários motivos para se induzir que o Brasil tenha superado uma das mais profundas e longas recessões econômicas da sua história. 

Os pilares dessa recuperação, no primeiro semestre de 2017, foram o setor agrícola, que teve um intenso crescimento no início do ano e se manteve firme, e o consumo das famílias que, no segundo trimestre, cresceu 1,4%. As principais razões dessa alta do consumo foram a queda rápida da inflação, dos juros e do endividamento doméstico, além da liberação das contas inativas do FGTS.

O desemprego começou a cair; desde janeiro já foram criadas 415 mil novas vagas no mercado de trabalho, mesmo que a maior parte delas seja informal. Tal qual um paciente que sai de um longo período na UTI, comemora-se a melhora, com uma certa reserva, pois não se tem como avaliar quais serão as sequelas e muito menos o ritmo do processo de recuperação.

As notícias ruins continuaram sendo nos investimentos públicos e privados, com um recuo de 0,7% no trimestre, indicador em queda desde o fim de 2013. Como proporção do PIB, o investimento brasileiro chegou a 15,5% no segundo trimestre, taxa insuficiente para garantir um novo ciclo de crescimento sustentável. A incerteza do cenário político e a falta de crédito são dois dos fatores que impedem a retomada dos investimentos.

Apenas o crescimento dos investimentos seria capaz de dar sustentação à retomada da economia, já que o consumo funciona como o esqueleto e o investimento, como a musculatura. O que faz o corpo caminhar é a musculatura, do mesmo modo é o investimento que faz a economia se movimentar.

Máquinas e equipamentos ociosos significam que é possível aumentar a oferta sem novos investimentos. Dificilmente, haverá um novo ciclo de investimentos antes da definição do cenário político pós eleições de 2018. A modernização e a inovação na economia estaria limitada, o que seria um fator restritivo para o crescimento da produtividade.

Em resumo, o crescimento esperado de 0,8% a 1% em 2017 e 2% a 2,5% em 2018 será resultado, principalmente, da elevação do consumo que, sem uma retomada sólida dos investimentos, será incapaz de gerar um crescimento econômico mais expressivo e sustentável.

Lauro Chaves Neto

lchavesneto@uol.com.br 
Presidente do Conselho Regional de Economia, consultor, professor da Uece e doutor em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona