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Cracolândia, degradação do território e economia urbana

Desde o fim da década de 1990 que presto consultoria na elaboração e implantação de planos estratégicos e planos diretores de inúmeros municípios, sendo uma das formas de reciclagem profissional mais importante o estudo de casos de sucesso ou fracasso no que se refere tanto ao desenvolvimento quanto à degradação de territórios.

Dentro deste contexto, fui a São Paulo, no mês passado, e visitei a cracolândia, na região da Luz. A Sala São Paulo e a Estação Júlio Prestes, que pertencem ao patrimônio histórico e cultural da Cidade, ficam vizinhas e poderiam ser âncoras de uma solução a ser construída para acabar com a degradação social e urbana ali existente.

Segundo relatos dos pesquisadores, a cocaína começou a circular na região central em meados dos anos 1950. Uma década depois, houve o aumento da prostituição. Ainda nos anos 1960, com a construção de uma rodoviária em frente à praça Júlio Prestes, o processo de degradação da área foi acelerado, na opinião deles, já que palacetes tradicionais foram derrubados. Desativada a rodoviária, em 1982, hotéis construídos para receber os passageiros e diversos outros serviços ficaram ociosos. Na esteira dessa degradação urbana, a droga provocou um novo tipo de ocupação na região.

Desde 2005, a cracolândia foi tema, somente na USP, de pelo menos 240 trabalhos acadêmicos, entre mestrado e doutorado, em áreas como economia, direito, urbanismo, saúde e antropologia. A leitura de alguns desses trabalhos despertou o meu interesse, porém, nada supera a visita in loco em todo o entorno, por sinal, intensamente policiado. Ali, verdadeiros zumbis vagam a esmo, sem distinção de faixa etária, renda ou identidade de gênero. Ali, o que importa é uma pedra de crack.

Uma tragédia social e urbana que só terá chances de ser enfrentada com uma política pública de intervenção no território de forma integral. Soluções isoladas de repressão policial ou de assistencialismo jamais terão sucesso.

A revitalização de um território degradado e tão rico em história passa pela economia urbana, com especial atenção a moradias, oportunidades de trabalho e ao resgate da cidadania daqueles seres humanos entregues ao vício.


Lauro Chaves Neto

lchavesneto@uol.com.br

Presidente do Conselho Regional de Economia, consultor, professor da Uece e doutor em Desenvolvimento Regional e Planejamento Territorial pela Universidade de Barcelona

Fonte: O Povo